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Mostrando postagens com o rótulo Marquesa de Alorna

Marquesa de Alorna, in 'Antologia Poética' - Quem Diz que Amor é um Crime

Quem diz que amor é um crime  Calunia a natureza,  Faz da causa organizante  Criminosa a singeleza.  Que vejo, céus! Que não seja  De uma atracção resultado?  Atracção e amor é o mesmo;  Logo amor não é pecado.  Se respiro, a atmosfera,  Com um fluido combinado,  É quem me sustenta a vida  Dentro do peito agitado.  Se vejo mares, se fontes,  Rio, cristalino lago,  Dois gases se unem, formando  Aguas com que a sede apago.  Uma lei de afinidade  Se acha nos corpos terrenos;  Ácidos, metais, alcalis,  Tudo se une mais ou menos.  De que sou feita? – De terra;  Nela me hei de converter:  Se amor arder em meu peito  É da essencia do meu ser.  Sem que te ofenda razão,  Quero defender o amor;  Se contigo não concorda  Não é virtude, é furor.  Marquesa de Alorna, in 'Antologia Poética'   Portugal - 1750 // 1839 -  Poeta/Pedagoga  Título: Quem Diz que Amor é um Crime

Marquesa de Alorna, in 'Antologia Poética' - Sozinha no Bosque

Sozinha no bosque  com meus pensamentos.  calei as saudades,  fiz trégua aos tormentos.  Olhei para a Lua,  que as sombras rasgava,  nas trémulas águas  seus raios soltava.  Naquela torrente  que vai despedida,  encontro, assustada,  a imagem da vida.  Do peito, em que as dores  já iam cessar,  revoa a tristeza,  e torno a pensar.  Marquesa de Alorna, in 'Antologia Poética'   Portugal -  1750 // 1839 -  Poeta/Pedagoga  Título:  Sozinha no Bosque

Marquesa de Alorna, in 'Antologia Poética' - Se me Aparto de ti, Deus da Bondade

Se me aparto de ti, Deus da bondade,  Que ausência tão cruel! Como é possível  Que me leve a um abismo tão terrível  O pendor infeliz da humanidade!  Conforta-me, Senhor, que esta saudade  Me despedaça o coração sensível;  Se a teus olhos na cruz sou desprezível,  Não olhes para a minha iniquidade!  À suave esperança me entregaste,  E o preço de teu sangue precioso  Me afiança que não me abandonaste.  Se, justo, castigar-me te é forçoso,  lembra-te que te amei, e me criaste  para habitar contigo o Céu lustroso!  Marquesa de Alorna, in 'Antologia Poética'   Portugal -  1750 // 1839 -  Poeta/Pedagoga  Título:  Se me Aparto de ti, Deus da Bondade

Marquesa de Alorna, in 'Antologia Poética' - Pára, Funesto Destino

Pára, funesto destino,  Respeita a minha constância;  Pouco vences, se não vences  De minha alma a tolerância.  Se eu sobrevivo aos estragos  Dos males que me fizeste,  Inutil é combater-me,  Nem me vences, nem venceste.  Com secos olhos diviso  Esse horror que se apresenta:  Os meus existem de glória;  Morrendo a glória os alenta.  Marquesa de Alorna, in 'Antologia Poética'   Portugal - 1750 // 1839 - Poeta/Pedagoga  Título:  Pára, Funesto Destino

Marquesa de Alorna, in 'Antologia Poética' - Sonho

Perdoa, Amor, se não quero  Aceitar novo grilhão;  Quando quebraste o primeiro,  Quebraste-me o coração.  Olha, Amor, tem dó de mim!  Repara nos teus estragos,  E desvia por piedade  Teus sedutores afagos!  Tu de dia não me assustas;  Os meus sentidos atentos  Opõem aos teus artifícios  Mil pesares, mil tormentos.  Mas, cruel, porque me assaltas,  De mil sonhos rodeado?  Porque acometes no sono  Meu coração descuidado?...  Eu, quando acaso adormeço,  Adormeço de cansada,  E o crepúsculo do dia  Me acorda sobressaltada.  Arguo então a minha alma,  Repreendo a natureza  De ter cedido ao descanso  Tempo que devo à tristeza.  Que te importa um ser tão triste?...  Cobre de jasmins e rosas  Outras amantes felizes!  Deixa gemer as saudosas!  Marquesa de Alorna, in 'Antologia Poética'   1750 // 1839  Poeta/Pedagoga  Título:  Sonho

Marquesa de Alorna, in 'Antologia Poética' - Vai a Fresca Manhã Alvorecendo

Vai a fresca manhã alvorecendo,  vão os bosques as aves acordando,  vai-se o Sol mansamente levantando  e o mundo à vista dele renascendo.  Veio a noite os objectos desfazendo  e nas sombras foi todos sepultando;  eu, desperta, o meu fado lamentando.  fui coa ausência da luz esmorecendo.  Neste espaço, em que dorme a Natureza.  porque vigio assim tão cruelmente?  Porque me abafa ó peso da tristeza?  Ah, que as mágoas que sofre o descontente,  as mais delas são faltas de firmeza.  Torna a alentar-te, ó Sol resplandecente!  Marquesa de Alorna, in 'Antologia Poética'   Portugal -  1750 // 1839 -  Poeta/Pedagoga  Título:  Vai a Fresca Manhã Alvorecend o

Marquesa de Alorna, in 'Antologia Poética' - Como Está Sereno o Céu

Como está sereno o céu,  como sobe mansamente  a Lua resplandecente  e esclarece este jardim!  Os ventos adormeceram;  das frescas águas do rio  interrompe o murmúrio  de longe o som de um clarim.  Acordam minhas ideias,  que abrangem a Natureza;  e esta nocturna beleza  vem meu estro incendiar.  Mas, se à lira lanço a mão,  apagadas esperanças  me apontam cruéis lembranças,  e choro em vez de cantar.  Marquesa de Alorna, in 'Antologia Poética'   Título:  Como Está Sereno o Céu

Marquesa de Alorna, in 'Antologia Poética' - Sonhos Meus

Sonhos meus, suaves sonhos,  Sois melhores do que a verdade;  Quando sonho sou ditosa,  Sem o ser na realidade.  Amor, tu vens nos meus sonhos  Acalmar-me o coração;  Mas cruel! Quanto prometes  Não passa de uma ilusão.  Sonhei, tirano, esta noite,  Sonhei que tu me chamavas,  E que sobre a relva branda  Tu mesmo me acalentavas.  Disseste-me: “Dorme, Alcipe,  Amor sobre ti vigia,  Mal podes temer os fados.”  Dormi: neste dobre sono  Me achei n’um palacio d’ouro:  Entregaram-me uma chave  Para que abrisse um tesouro.  - “Chave mágica, sublime,  Que me vais tu descobrir?  Se é menos do que eu desejo  Será melhor não abrir…”  - “Abre, Alcipe” qual trovão  Brada o deus que me vigia:  Acordei sobressaltada,  E abriu-se, mas foi o dia.  M arquesa de Alorna, in 'Antologia Poética'   Portugal -  1750 // 1839 -  Poeta/Pedagoga  Título:  Sonhos Meus

Marquesa de Alorna, in 'Antologia Poética' - Basta, Destino Severo

Basta, destino severo:   Em dias tão malogrados  Me trocaste sem piedade  Instantes afortunados.  Quais voltas do sol os raios  Pelas trevas apagados,  Voltai, se podeis, instantes,  Instantes afortunados!  Voto imprudente! Que digo?  Só posso esperar cuidados,  Uma vez que os interrompem  Instantes afortunados.  Marquesa de Alorna, in 'Antologia Poética'   Portugal -  1750 // 1839 -  Poeta/Pedagoga  Título:  Basta, Destino Severo

Marquesa de Alorna, in 'Antologia Poética' - Eu Cantarei um Dia da Tristeza

Eu cantarei um dia da tristeza  por uns termos tão ternos e saudosos,  que deixem aos alegres invejosos  de chorarem o mal que lhes não pesa.  Abrandarei das penhas a dureza,  exalando suspiros tão queixosos,  que jamais os rochedos cavernosos  os repitam da mesma natureza.  Serras, penhascos, troncos, arvoredos,  ave, ponte, montanha, flor, corrente,  comigo hão-de chorar de amor enredos.  Mas ah! que adoro uma alma que não sente!  Guarda, Amor, os teus pérfidos segredos,  que eu derramo os meus ais inutilmente.  Marquesa de Alorna, in 'Antologia Poética'   1750 // 1839  Poeta/Pedagoga  Título:  Eu Cantarei um Dia da Tristeza

Marquesa de Alorna, in 'Antologia Poética' - Lusitânia Querida

Lusitânia querida! Se não choro  Vendo assim lacerado o teu terreno,  Não é de ingrata filha o dó pequeno;  Rebeldes julgo os ais, se te deploro.  Admiro de teus danos o decoro.  Bebeu Sócrates firme seu veneno;  E em qualquer parte do perigo o aceno  Encontra e cresce o teu valor, que adoro.  Mais que a vitória vale um sofrer belo;  E assaz te vingas de opressões fatais,  Se arrasada te vês, sem percebê-lo.  Povos! a independência que abraçais  Aplaude, alegre, o estrago, e grita ao vê-lo:  "Ruína sim, mas servidão jamais!"  Marquesa de Alorna, in 'Antologia Poética'   Portugal - 1750 // 1839 -  Poeta/Pedagoga  Título:  Lusitânia Querida