Marquesa de Alorna, in 'Antologia Poética' - Quem Diz que Amor é um Crime

Quem diz que amor é um crime 
Calunia a natureza, 
Faz da causa organizante 
Criminosa a singeleza. 

Que vejo, céus! Que não seja 
De uma atracção resultado? 
Atracção e amor é o mesmo; 
Logo amor não é pecado. 

Se respiro, a atmosfera, 
Com um fluido combinado, 
É quem me sustenta a vida 
Dentro do peito agitado. 

Se vejo mares, se fontes, 
Rio, cristalino lago, 
Dois gases se unem, formando 
Aguas com que a sede apago. 

Uma lei de afinidade 
Se acha nos corpos terrenos; 
Ácidos, metais, alcalis, 
Tudo se une mais ou menos. 

De que sou feita? – De terra; 
Nela me hei de converter: 
Se amor arder em meu peito 
É da essencia do meu ser. 

Sem que te ofenda razão, 
Quero defender o amor; 
Se contigo não concorda 
Não é virtude, é furor. 


Marquesa de Alorna, in 'Antologia Poética' 

Portugal -
1750 // 1839 - 
Poeta/Pedagoga 
Título: Quem Diz que Amor é um Crime

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