Marquesa de Alorna, in 'Antologia Poética' - Sonhos Meus


Sonhos meus, suaves sonhos, 
Sois melhores do que a verdade; 
Quando sonho sou ditosa, 
Sem o ser na realidade. 

Amor, tu vens nos meus sonhos 
Acalmar-me o coração; 
Mas cruel! Quanto prometes 
Não passa de uma ilusão. 

Sonhei, tirano, esta noite, 
Sonhei que tu me chamavas, 
E que sobre a relva branda 
Tu mesmo me acalentavas. 

Disseste-me: “Dorme, Alcipe, 
Amor sobre ti vigia, 
Mal podes temer os fados.” 

Dormi: neste dobre sono 
Me achei n’um palacio d’ouro: 
Entregaram-me uma chave 
Para que abrisse um tesouro. 

- “Chave mágica, sublime, 
Que me vais tu descobrir? 
Se é menos do que eu desejo 
Será melhor não abrir…” 

- “Abre, Alcipe” qual trovão 
Brada o deus que me vigia: 
Acordei sobressaltada, 
E abriu-se, mas foi o dia. 


M
arquesa de Alorna, in 'Antologia Poética' 
Portugal - 1750 // 1839 - Poeta/Pedagoga 
Título: Sonhos Meus

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