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Mostrando postagens com o rótulo Florbela Espanca

Florbela Espanca - Frases

Hás-de gostar mais de mim assim, do que se eu fosse a própria deusa Minerva com todo o juízo que todos os deuses lhe deram. Florbela Espanca

Florbela Espanca - LÁGRIMAS OCULTAS

Se me ponho a cismar em outras eras Em que ri e cantei, em que era querida, Parece-me que foi noutras esferas, Parece-me que foi numa outra vida... E a minha triste boca dolorida, Que dantes tinha o rir das primaveras, Esbate as linhas graves e severas E cai num abandono de esquecida! E fico pensativa, olhando o vago... Toma a brandura plácida de um lago O meu rosto de monja de marfim... E as lágrimas que choro, branca e calma, Ninguém as vê brotar dentro da alma, Ninguém as vê cair dentro de mim! Autora: Florbela Espanca Título: LÁGRIMAS OCULTAS

Florbela Espanca - TORTURA

Tirar dentro do peito a Emoção, A lúcida Verdade, o Sentimento! — E ser, depois de vir do coração, Um punhado de cinza esparso ao vento! ... Sonhar um verso de alto pensamento, E puro como um ritmo de oração! — E ser, depois de vir do coração, O pó, o nada, o sonho dum momento... São assim ocos, rudes, os meus versos: Rimas perdidas, vendavais dispersos, Com que iludo os outros, com que minto! Quem me dera encontrar o verso puro, O verso altivo e forte, estranho e duro, Que dissesse, a chorar, isto que sinto! ! Autora: Florbela Espanca Título: TORTURA

Florbela Espanca - CASTELÃ DE TRISTEZA

Altiva e couraçada de desdém, Vivo sozinha em meu castelo: a Dor! Passa por ele a luz de todo o amor... E nunca em meu castelo entrou alguém! Castela da Tristeza, vês?... A quem?... — E o meu olhar é interrogador — Perscruto ao longe as sombras do sol-pôr... Chora o silêncio... nada... ninguém vem... Castelã da Tristeza, porque choras Lendo, toda de branco, um livro de horas, À sombra rendilhada dos vitrais?... À noite, debruçada, p’las ameias, Porque rezas baixinho?... Porque anseias?... Que sonho afagam tuas mãos reais?... Autora: Florbela Espanca Título: CASTELÃ DE TRISTEZA

Florbela Espanca - VAIDADE

Sonho que sou a Poetisa eleita, Aquela que diz tudo e tudo sabe, Que tem a inspiração pura e perfeita, Que reúne num verso a imensidade! Sonho que um verso meu tem claridade Para encher todo o mundo! E que deleita Mesmo aqueles que morrem de saudade! Mesmo os de alma profunda e insatisfeita! Sonho que sou Alguém cá neste mundo... Aquela de saber vasto e profundo, Aos pés de quem a terra anda curvada! E quando mais no céu eu vou sonhando, E quando mais no alto ando voando, Acordo do meu sonho... E não sou nada! ... Autora: Florbela Espanca Título: VAIDADE

Florbela Espanca - HORAS RUBRAS

Horas profundas, lentas e caladas Feitas de beijos sensuais e ardentes, De noites de volúpia, noites quentes Onde há risos de virgens desmaiadas... Oiço as olaias rindo desgrenhadas... Tombam astros em fogo, astros dementes, E do luar os beijos languescentes São pedaços de prata p’las estradas... Os meus lábios são brancos como lagos... Os meus braços são leves como afagos, Vestiu-os o luar de sedas puras... Sou chama e neve branca e misteriosa... e sou, talvez, na noite voluptuosa, Ó meu Poeta, o beijo que procuras! Autora: Florbela Espanca Título: HORAS RUBRAS

Florbela Espanca - FANATISMO

Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida. Meus olhos andam cegos de te ver! Não és sequer razão do meu viver, Pois que tu és já toda a minha vida! Não vejo nada assim enlouquecida... Passo no mundo, meu Amor, a ler No misterioso livro do teu ser A mesma história tantas vezes lida! “Tudo no mundo é frágil, tudo passa... ” Quando me dizem isto, toda a graça Duma boca divina fala em mim! E, olhos postos em ti, digo de rastros: “Ah! Podem voar mundos, morrer astros, Que tu és como Deus: Princípio e Fim! ... ” Autora: Florbela Espanca Título: FANATISMO

Florbela Espanca - FOLHAS DE ROSA

Todas as prendas que me deste, um dia, Guardei-as, meu encanto, quase a medo, E quando a noite espreita o pôr-do-sol, Eu vou falar com elas em segredo... E falo-lhes d’amores e de ilusões, Choro e rio com elas, mansamente... Pouco a pouco o perfume do outrora Flutua em volta delas, docemente... Pelo copinho de cristal e prata Bebo uma saudade estranha e vaga, Uma saudade imensa e infinita Que, triste, me deslumbra e m’embriaga O espelho de prata cinzelada, A doce oferta que eu amava tanto, Que reflectia outrora tantos risos, E agora reflecte apenas pranto, E o colar de pedras preciosas, De lágrimas e estrelas constelado, Resumem em seus brilhos o que tenho De vago e de feliz no meu passado... Mas de todas as prendas, a mais rara, Aquela que mais fala à fantasia, São as folhas daquela rosa branca Que a meus pés desfolhaste, aquele dia... Autora: Florbela Espanca Título: FOLHAS DE ROSA

Florbela Espanca, in "A Mensageira das Violetas" - O Teu Olhar

Passam no teu olhar nobres cortejos,  Frotas, pendões ao vento sobranceiros,  Lindos versos de antigos romanceiros,  Céus do Oriente, em brasa, como beijos,  Mares onde não cabem teus desejos;  Passam no teu olhar mundos inteiros,  Todo um povo de heróis e marinheiros,  Lanças nuas em rútilos lampejos;  Passam lendas e sonhos e milagres!  Passa a Índia, a visão do Infante em Sagres,  Em centelhas de crença e de certeza!  E ao sentir-se tão grande, ao ver-te assim,  Amor, julgo trazer dentro de mim  Um pedaço da terra portuguesa!  Florbela Espanca, in "A Mensageira das Violetas"   Título:  O Teu Olhar

Florbela Espanca, in "Charneca em Flor" - A Nossa Casa

A nossa casa, Amor, a nossa casa!  Onde está ela, Amor, que não a vejo?  Na minha doida fantasia em brasa  Constrói-a, num instante, o meu desejo!  Onde está ela, Amor, a nossa casa,  O bem que neste mundo mais invejo?  O brando ninho aonde o nosso beijo  Será mais puro e doce que uma asa?  Sonho... que eu e tu, dois pobrezinhos,  Andamos de mãos dadas, nos caminhos  Duma terra de rosas, num jardim,  Num país de ilusão que nunca vi...  E que eu moro - tão bom! - dentro de ti  E tu, ó meu Amor, dentro de mim...  Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"   Título: A Nossa Casa

Florbela Espanca, in "A Mensageira das Violetas" - Doce Certeza

Por essa vida fora hás-de adorar   Lindas mulheres, talvez; em ânsia louca,  Em infinito anseio hás de beijar  Estrelas d´ouro fulgindo em muita boca!  Hás de guardar em cofre perfumado  Cabelos d´ouro e risos de mulher,  Muito beijo d´amor apaixonado;  E não te lembrarás de mim sequer...  Hás de tecer uns sonhos delicados...  Hão de por muitos olhos magoados,  Os teus olhos de luz andar imersos!...  Mas nunca encontrarás p´la vida fora,  Amor assim como este amor que chora  Neste beijo d´amor que são meus versos!...  Florbela Espanca, in "A Mensageira das Violetas"   Titulo: Doce Certeza

Florbela Espanca, in "Livro de Mágoas" - De Joelhos “Bendita seja a Mãe que te gerou.”

Bendito o leite que te fez crescer  Bendito o berço aonde te embalou  A tua ama, pra te adormecer!  Bendita essa canção que acalentou  Da tua vida o doce alvorecer ...  Bendita seja a Lua, que inundou  De luz, a Terra, só para te ver ...  Benditos sejam todos que te amarem,  As que em volta de ti ajoelharem  Numa grande paixão fervente e louca!  E se mais que eu, um dia, te quiser  Alguém, bendita seja essa Mulher,  Bendito seja o beijo dessa boca!!  Florbela Espanca, in "Livro de Mágoas"   Título:  De Joelhos “Bendita seja a Mãe que te gerou.” 

Florbela Espanca, in "Livro de Sóror Saudade" - Horas Rubras

Horas profundas, lentas e caladas  Feitas de beijos rubros e ardentes,  De noites de volúpia, noites quentes  Onde há risos de virgens desmaiadas...  Oiço olaias em flor às gargalhadas...  Tombam astros em fogo, astros dementes,  E do luar os beijos languescentes  São pedaços de prata p'las estradas...  Os meus lábios são brancos como lagos...  Os meus braços são leves como afagos,  Vestiu-os o luar de sedas puras...  Sou chama e neve e branca e mist'riosa...  E sou, talvez, na noite voluptuosa,  Ó meu Poeta, o beijo que procuras!  Florbela Espanca, in "Livro de Sóror Saudade"   Título:  Horas Rubras

Florbela Espanca, in "A Mensageira das Violetas" - Falo de Ti às Pedras das Estradas

Falo de ti às pedras das estradas,  E ao sol que e louro como o teu olhar,  Falo ao rio, que desdobra a faiscar,  Vestidos de princesas e de fadas;  Falo às gaivotas de asas desdobradas,  Lembrando lenços brancos a acenar,  E aos mastros que apunhalam o luar  Na solidão das noites consteladas;  Digo os anseios, os sonhos, os desejos  Donde a tua alma, tonta de vitória,  Levanta ao céu a torre dos meus beijos!  E os meus gritos de amor, cruzando o espaço,  Sobre os brocados fúlgidos da glória,  São astros que me tombam do regaço!  Florbela Espanca, in "A Mensageira das Violetas"   Título:  Falo de Ti às Pedras das Estradas

Florbela Espanca, in "Charneca em Flor" - Se Tu Viesses Ver-me...

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,  A essa hora dos mágicos cansaços,  Quando a noite de manso se avizinha,  E me prendesses toda nos teus braços...  Quando me lembra: esse sabor que tinha  A tua boca... o eco dos teus passos...  O teu riso de fonte... os teus abraços...  Os teus beijos... a tua mão na minha...  Se tu viesses quando, linda e louca,  Traça as linhas dulcíssimas dum beijo  E é de seda vermelha e canta e ri  E é como um cravo ao sol a minha boca...  Quando os olhos se me cerram de desejo...  E os meus braços se estendem para ti...  Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"   Título: Se Tu Viesses Ver-me...

Florbela Espanca - Nem o perfume dos cravos

"Nem o perfume dos cravos, Nem a cor das violetas, Nem o brilho das estrelas, Nem o sonhar dos poetas, Pode igualar a beleza Da primorosa flor, Que abre na tua boca O teu riso encantador." Florbela Espanca Nem o perfume dos cravos

Florbela Espanca Correspondência (1916) - Eu não sou como muita gente

"Eu não sou como muita gente: entusiasmada até à loucura no princípio das afeições e depois, passado um mês, completamente desinteressada delas. Eu sou ao contrário: o tempo passa e a afeição vai crescendo, morrendo apenas quando a ingratidão e a maldade a fizerem  morrer." Florbela Espanca Fonte - Correspondência (1916)

Florbela Espanca Correspondência (1926) - A vida é apenas isto.

"A vida é apenas isto: um encadeamento de acasos bons e maus, encadeamento sem lógica, nem razão; é preciso a gente olhá-la de frente com coragem e pensar, mas sem desfalecimentos, que a nossa hora há-de vir, que a gente há-de ter um dia em que há-de poder dormir, e não ouvir, não ver, não compreender nada." Florbela Espanca Fonte: Correspondência (1926)

Florbela Espanca - Não há dores eternas

"Não há dores eternas, e é da nossa miserável condição não poder deter nada que o tempo leva, que o tempo destrói: nem as dores mais nobres, nem as maiores."   Florbela Espanca Correspondência (1926)

Florbela Espanca, in "Correspondência (1920)" - Uma Mulher sem Areia Nenhuma

Tenho o santo horror da frieza calculada, da boa educação, do prudente juízo duma mulher. Aos homens pertence tudo isso, e a mulher deve ser muito feminina, muito espontânea, muito cheia de pequeninos nadas que encantem e que embalem. Meu amigo, se esperas ter uma mulher sem areia nenhuma, morres de aborrecimento e de frio ao pé dela e não será com certeza ao pé de mim... Comigo hás-de ter sempre que pensar e que fazer. Hás-de rir das minhas tolices, hás-de ralhar quando elas passarem a disparates (hão-de ser pequeninos...) e hás-de gostar mais de mim assim, do que se eu fosse a própria deusa Minerva com todo o juízo que todos os deuses lhe deram.  Florbela Espanca, in "Correspondência (1920)" Titulo: Uma Mulher sem Areia Nenhuma Fonte: http://www.citador.pt /