Marquesa de Alorna, in 'Antologia Poética' - Sonho


Perdoa, Amor, se não quero 


Aceitar novo grilhão; 
Quando quebraste o primeiro, 
Quebraste-me o coração. 

Olha, Amor, tem dó de mim! 
Repara nos teus estragos, 
E desvia por piedade 
Teus sedutores afagos! 

Tu de dia não me assustas; 
Os meus sentidos atentos 
Opõem aos teus artifícios 
Mil pesares, mil tormentos. 

Mas, cruel, porque me assaltas, 
De mil sonhos rodeado? 
Porque acometes no sono 
Meu coração descuidado?... 

Eu, quando acaso adormeço, 
Adormeço de cansada, 
E o crepúsculo do dia 
Me acorda sobressaltada. 

Arguo então a minha alma, 
Repreendo a natureza 
De ter cedido ao descanso 
Tempo que devo à tristeza. 

Que te importa um ser tão triste?... 
Cobre de jasmins e rosas 
Outras amantes felizes! 
Deixa gemer as saudosas! 


Marquesa de Alorna, in 'Antologia Poética' 
1750 // 1839 Poeta/Pedagoga 
Título: Sonho

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