Luís Vaz de Camões, in "Sonetos" - Corro Após este Bem que não se Alcança

Corro Após este Bem que não se Alcança

Oh como se me alonga de ano em ano 
A peregrinação cansada minha! 
Como se encurta, e como ao fim caminha 
Este meu breve e vão discurso humano! 

Minguando a idade vai, crescendo o dano; 
Perdeu-se-me um remédio, que inda tinha; 
Se por experiência se adivinha, 
Qualquer grande esperança é grande engano. 

Corro após este bem que não se alcança; 
No meio do caminho me falece; 
Mil vezes caio, e perco a confiança. 

Quando ele foge, eu tardo; e na tardança, 
Se os olhos ergo a ver se inda aparece, 
De vista se me perde, e da esperança. 

Luís Vaz de Camões, in "Sonetos" 
Portugal 
1524 // 10 Jun 1580 

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