Pedro Salinas (1891-1951) - Dame tu liberdad...

Dame tu libertad. 
No quiero tu fatiga,
no, ni tus hojas secas,
tu sueño, ojos cerrados.
Ven a mí desde ti,
no desde tu cansancio
de ti. Quiero sentirla.
Tu libertad me trae,
igual que un viento universal,
un olor de maderas
remotas de tus muebles,
una bandada de visiones
que tú veías
cuando en el colmo de tu libertad
cerrabas ya los ojos.
¡Qué hermosa tú libre y en pie!
Si tú me das tu libertad me das tus años
blancos, limpios y agudos como dientes,
me das el tiempo en que tú la gozabas.
Quiero sentirla como siente el agua
del puerto, pensativa,
en las quillas inmóviles
el alta mar. La turbulencia sacra.
Sentirla,
vuelo parado,
igual que en sosegado soto
siente la rama
donde el ave se posa,
el ardor de volar, la lucha terca
contra las dimensiones en azul.
Descánsala hoy en mí: la gozaré
con un temblor de hoja en que se paran
gotas del cielo al suelo.
La quiero
para soltarla, solamente.
No tengo cárcel para ti en mi ser.
Tu libertad te guarda para mí.
La soltaré otra vez, y por el cielo,
por el mar, por el tiempo,
veré cómo se marcha hacia su sino.
Si su sino soy yo, te está esperando.


Autor: Pedro Salinas
Titulo: DAME TU LIBERTAD...


Tradução


Tradução  de Salomão Sousa


Dá-me tua liberdade.
Não quero tua fadiga,
não, nem tuas folhas secas,
teu sonho, teus olhos cerrados.
Vem a mim a partir de ti,
não a partir do teu cansaço
de ti; quero senti-la.
Tua liberdade me traz,
assim igual a um vento universal,
um odor de madeira.
remotas de teus móveis,
um monte de visões
que tu vias
quando no alto de tua liberdade
já cerravas os olhos.
Que bela tu livre e de pé!
Se me dás tua liberdade me dás teus anos
brancos, limpos e agudos como dentes,
dás-me o tempo em que a gozavas.
Quero senti-la como sente a água
do porto, pensativa,
nas quilhas imóveis
em alto mar. A turbulência sacra.
Senti-la,
vôo parado,
assim como a quieta várzea
sente a rama
onde vem a ave e pousa,
o ardor de voar, a luta pertinaz
contra as dimensões azuis.
Dencanse-a hoje em mim: vou gozá-la
com um tremular de folha em que descem
gotas do céu ao solo.
Quero-a
para soltá-la, somente.
Não tenho cárcere para ti em meu ser.
Tua liberdade te guarda para mim.
Soltarei-a outra vez, e pelo céu,
pelo mar, pelo tempo,
verei como parte para seu destino.
Se o teu destino sou eu, ele te espera.

Autor: Pedro Salinas
Titulo: DÁ-ME TUA LIBERDADE 

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