Angel Crespo - El Poema/ Homenagem a João Cabral de Melo Neto


HOMENAJE A JOÃO CABRAL DE MELO NETO


Si el poema no es una piedra
a la medida de la mano,
entonces debe ser un guante
perfectamente cortado.


Si no es un guante, es un anillo
hecho de un metal violento
o un dedal que empuja a la aguja
que confecciona el pensamiento.
Si no es un dedal, es un látigo
que restalla contra las sombras
o el mango de un martillo
que hace sonar segundos y horas.


Si no es un mango, es un espejo
que solo refleja lo claro:
no admite su impoluto azogue
la duda del segundo plano.


Si no es un espejo, es un lápiz
que sólo escribe un alfabeto:
el alfabeto de las sílabas
que se pueden tomar a peso.



Todo poema es un cuchillo
que donde corta sana
o es un hilo que como cuentas
-collar- ensarta las palabras.


Si no es un hilo, es el pabilo
de una vela perenne,
con una llama que consume
una cera que permanece.


Si no es un pabilo, es el hueco
geométricamente exacto
en el que caben las palabras
a la vez que la mano.


Si no es un hueco, es la raíz
de un árbol siempre verde,
diferente de los demás
y a nada indiferente.


Si no es raíz, es herramienta
de cortar las raíces
para hacer sitio a las palabras
que pugnan por abrirse.





Un poema Ilega sin prisa
por entre bosques y fronteras
mas en terreno despejado
es donde se vuelve poema.


Un poema Ilega a la mano
en forma de agua, polvo o viento,
pero hasta no tener su forma
no es un poema: falta el verbo.


Un poema, cuando está frío
o caliente, es un agua turbia;
ha de tener de nuestras manos
la desigual temperatura;


ha de ser como la colmena
con sus celdillas y su miel:
rectilíneamente exacto
como los bordes del papel.


Un poema Ileno de versos
es un cántaro Ileno de agua:
perderemos la espuma
si le rebosan las palabras.


Un poema es igual que el canto
de la medalla o la moneda:
junta dos caras – una el sí
y la otra el no – y es de una pieza.


O tal vez sea como curva,
de un lado convexa y del otro
cóncova, o como el dios Jano:
una cabeza con dos rostros.


Pero si despacio se coge,
quedamos asombrados
al comprobar que siempre mira,
sin pestañear, nuestras dos manos.


Y será el asombro mayor
cuando lo tomemos a peso
y, aun no teniendo iguales fuerzas,
Sean iguales los esfuerzos.


O cuando queramos mirar
aquello que el poema mira
y él mismo nos acerque a los ojos
el sí y el no de nuestra vista.

Tradução de Antonio Miranda

HOMENAGEM A JOÃO CABRAL DE MELO NETO

Se o poema não é uma pedra
na medida da mão,
então deve ser uma luva
perfeitamente cortada.

Se não é uma luva, é um anel
feito de um metal violento
ou um dedal que empurra a agulha
que confecciona o pensamento.

Se não é dedal, é um látego
que estrala contra as sombras
ou o cabo de um martelo
que faz soar segundos e horas.

Se não é um cabo, é um espelho
que apenas reflete o claro:
não admite seu impoluto azougue
a dúvida do segundo plano.

Se não é um espelho, é um lápis
que apenas escreve um alfabeto:
o alfabeto das sílabas
que podem ser tidas a peso.


Qualquer poema é um punhal
que sara onde corta
ou é um fio que como as contas
— colar — enfileira as palavras.

Se não é um fio, é o pavio
de uma vela perene,
com a chama que consome
a cera que permanece.

Se não é um pavio, é oco
geometricamente exato
em que cabem as palavras
ao mesmo tempo que a mão.

Se não é o oco, é a raiz
de uma árvore sempre verde,
diferente das demais
e a nada indiferente.

Se não é raiz, é ferramenta
de cortar as raízes
par sitiar as palavras
que lutam por abrir-se.

O poema chega sem pressa
através de bosques e fronteiras
mas em terreno despojado
onde se torna um poema.

Um poema chega à mão
em forma de água, pó ou vento,
mas até não atingir a forma
não é um poema: falta o verbo.

Um poema, quando está frio
ou quente, é uma água turva;
há-de ter de nossas mãos
a desigual temperatura;

há-de ser como a colméia
com suas cavidades e seu mel:
retilineamente exato
como as beiradas do papel.

Um poema pleno de versos
é um cântaro cheio d´água:
perderemos a espuma
se transbordam as palavras.



O poema é como o canto
da medalha ou da moeda:
une duas caras — uma o sim
a outra o não — e é de uma peça.

Ou talvez seja como a curva,
de um lado convexa e do outro
côncava, ou como o deus Jano:
uma cabeça com duas faces.

Mas se devagar se colhe,
ficamos assombrados
ao comprovar que sempre vê,
sem pestanejara, nossas duas mãos.

E será maior o assombro
quando o tenhamos a peso
e, ainda não tendo forças iguais,
sejam iguais os esforços.

Ou quando queiramos olhar
aquele que o poema olha
e ele mesmo nos traga aos olhos
o sim e o não de nossa vista.

Autor: Ángel Crespo - El poema/ Homenagem a João Cabral de Melo Neto

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